terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O dia da nuvem negra...

Hoje apetece-me deitar tudo pelos ares. Rifar o mundo por assim dizer, zangar-me com este estilo de vida que não nos permite gozar a família ou os amigos, ou até gozar o nosso próprio tempo.
Comecei o dia com a notícia de que ia ficar sem mais uma colega. Tudo a rumar para ventos mais favoráveis porque esta casa está gasta. Vou ficar sem um dos meus grandes apoios, sem a minha parceira de risos e fofocas, sem aquela que aliviava o ambiente sempre que havia tensão. Vou voltar mais triste e menos sorridente...

E depois este ritmo de vida idiota e frustrante... A sério que até sou uma moça agradecida por tudo o que tenho. A sério que sou. A sério que até acho que tenho alguma qualidade de vida e sou profundamente agradecida por isso. E tenho uma família linda e com saúde, e com quem me divirto.

Mas ultimamente fico frustrada com a correria dos nossos dias. Passo o dia a cuidar de um bebé lindo que me dá o trabalho normal que os bebés dão, e com saudades de ver todos em casa e de partilhar o resto do meu dia. Mas esses momentos são tão, mas tão curtos que começo a andar frustrada.

Que vida é esta que temos neste país, em que mal se chega a casa é uma correria imensa para, no fundo, acabar o dia? Os meus seres queridos chegam a casa a partir das 18h30/19h. Isto porquê? porque o pai trabalha em Lx, onde demora 1h30 por vezes a chegar a casa (e a ir de manhã para o trabalho) e ir buscar o mais velho. Por sua vez o mais velho anda a arrastar-se porque acorda sem excepção às 7h em ponto da manhã, para estar na escola criteriosamente às 8h, para o pai poder estar no trabalho às 9h. Que nunca está. Chega sempre atrasado, às 9h30. Chega sempre a correr e volta para casa sempre a olhar para o relógio. A correr também. E a correr chega à escola do M. (que anda sem sestas, porque aos 4 anos a maioria das escolas acha que eles já têm 30 anos...) que é dos últimos a ir embora na sala onde ficam os miúdos cujos pais chegam tarde. Ou seja, se eu não o for buscar o rapaz fica lá quase 11h...

E depois, a melhor parte - chegam a casa e é uma correria para dar banhos, para fazer e dar o jantar. Tudo bem cronometrado e sempre apressado, para o M. ir para a cama cedo, para descansar o mais possível. Mas se por um lado queremos estar com ele e conversar e saber como foi o dia, por outro lado apressamo-lo para comer (demora séculos...). E por vezes irrito-me com a parvoíce dele (parece um pré-adolescente respondão que só diz coisas parvinhas dignas da sua idade ("tens cocó na cabeça", etc etc) e por vezes sou uma sombra da mãe paciente que sempre fui com ele. E a coisa descamba claro. E o cansaço e a birra abate-se, e é choradeira dele, e impaciência nossa. E é lavar os dentes à pressa, e contar a história sem apreciar efetivamente o momento, e deitá-lo, que já é tarde e no dia a seguir ele levanta-se cedo. Nem o gozamos. Cada vez que penso que apenas passo basicamente 2 ou 3h diárias com ele até me dá uma coisa. E quando penso que essas horas são passadas a prepará-lo para comer e dormir... até se me dói o coração.
Ah! e claro que agora esse tempo é partilhado com o irmão que exige a nossa atenção, ou porque chora por colo e atenção, ou porque quer comer.

E depois de deitado o M. um de nós continua a tratar do P. E ultimamente o P. chora a combater o sono. Não quer dormir, quer ficar acordado. Mas já está tão overloaded do dia (em que também não dorme muito...) que se agita de excitação e cansaço. E lá se passam "horas" à volta dele. E por vezes sucumbe-se e lá lhe damos mais colo ainda para nós próprios termos alguma calma. Mas depois deitamo-lo... e a fera acorda, claro! e chora ou então quer conversa.

E no meio disso tudo ainda há que arrumar a cozinha que ficou a meio para deitar o M. e atender o P., há que preparar a lancheira do M. para o dia seguinte, etc. E de repente já são 23h da noite e começo a entrar em stress porque já é tarde e o P. vai acordar às 2h ou 3h da manhã e tenho de dormir.
E cada vez que penso que isto já é assim agora e o M. ainda não traz trabalhos de casa nem nada... dá-me vontade de chorar...
E cada vez que penso que ainda não comecei a trabalhar e que, quando o fizer, estarei eu própria a olhar constantemente para o relógio para ir buscar 2 crianças e despachar o resto do dia...

E depois finalmente chega o fds e em vez de descansarmos e estarmos cheios de energia para o gozar, não. Estamos cansados, mas desta vez temos de ir buscar o triplo da energia para acompanhar o nosso filho de 4 anos que quer a nossa atenção e que como é óbvio quer ir passear (se estiver tempo para isso) ou quer brincar às lutas, ou quer fazer puzzles ou quer desenhar ou quer brincar com o que for. Mas quer obviamente fazê-lo connosco... E ainda bem! e adoramos todo esse tempo com ele. Mas deitamo-nos à noite rebentados.

Depois chega 2ª feira e o T. vai trabalhar. O stress de acordar cedo, o stress de chegar o mais depressa possível ao trabalho, o stress dos stresses que as empresas acarretam, o stress de voltar rápido para casa. Chega 2ª feira e eu até penso: ah vou descansar um bocado e vou estar sozinha só com o P.
Mas qual quê... é um bebé! e não me deixa esquecer isso :P

E quero sair e espairecer (até pode ser com ele, aliás costuma ser, não há mtas hipóteses) mas por vezes não tenho a energia ou o tempo (pasme-se quem acha q as mães que ficam em casa têm todo o tempo do mundo...). E chega o final da tarde e é o que já descrevi em cima.

E isto é o que eu e todos os pais passam. Esta correria insana que não deixa aproveitar nada nem ninguém. Que nos deixa cheios de saudades dos filhos e maridos/mulheres, mas que passado um bocado nos deixa a pedinchar apenas descanso.
Os empregos deveriam ser todos ao pé das escolas dos filhos. E não se deveria trabalhar 8h por dia + as horas que são precisas para ir e vir do trabalho. Como é possível que passemos a maior parte do tempo com os colegas e chefes e não com a família!?
E isto até é um cenário bom. Porque muita gente trabalha por turnos e nem 20 minutos tem para ver os filhos/conjugues por dia. Porque muita gente tem de trabalhar horas extra para chefes que olham de lado o facto de se sair a horas, chegando-se assim às 21h ou mais a casa.
É triste neste país isto acontecer...

O tempo de qualidade com o meu filho mais velho neste momento é aquela horazita em que faço o jantar e o tento convencer a ficar comigo na cozinha enquanto ele monta uns legos ou desenha, e lá vou falando com ele, em vez de ele ir ver os seus amados desenhos animados.
O tempo de qualidade com o T. é quando sobram minutos ou meias horas depois de despachados os miúdos. O tempo em que se tenta respirar.

Eu não quero essa treta do tempo de qualidade. Isso é uma tanga que inventaram para não nos sentirmos culpados por não estar tanto tempo com quem queremos porque temos tudo o resto para fazer. O que todos deveríamos ter era tempo de quantidade! eram horas a fio para distribuirmos com quem queremos. Isso sim é qualidade.

1 comentário:

  1. Melhores e mais longos dias virão! Ser pai ou mãe não é fácil não, mas é melhor do que não ser :p bjoka

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