segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Curtis e o sono















Volta e meia espreito o Celebrity Apprentice e, na temporada que estou a ver, um dos concorrentes é o conhecido chefe australiano Curtis Stone. Uma entrevista dele sobre o facto de ser pai recente e as vicissitudes do sono chamou-me a atenção: 

http://omg.yahoo.com/blogs/celeb-news/curtis-stone-why-chefs-more-sleep-parents-022655949.html


A certa altura o rapaz diz:


"But what’s been most surprising about parenthood? “How people get through life with such little sleep and don’t complain about it,” Stone tells omg!. “As a chef, you feel invincible and like you work around the clock, but then you realize that the majority of the world actually got a lot less sleep than you, because their kids keep them up at night."


Eu estou definitivamente incluída nessa parte do mundo que sobreviveu meses a fio (basicamente um ano e tal), e volta e meia sobrevive ainda dias a fio ou semanas, com privação do sono. É um estado que não se consegue explicar a quem não tem filhos, o que por vezes pode ser frustrante, especialmente se isso se passar no meio laboral. É um estado que temos de ultrapassar diariamente e ir buscar energias onde não sabíamos que existia alguma. É ir tentando tomar vitaminas, esquecer o cansaço, concentrar o melhor que se pode (se bem que concentração não combina com privação do sono lol). É pensar que se os outros sobrevivem a este estado meio zombie semi-permanente, nós também conseguimos. É pensar nas coisas boas de ter filhos e pensar que isto do sono "faz parte". É, mesmo estando cansadas de um dia de trabalho, ir buscar os filhos à escola e o nosso coração bater apaixonado como se tivessemos a nossa maior primeira paixão de sempre.


Dito isto... já é tarde, mas mesmo assim e tentando fazer um esforço por ir escrevendo no blogue e tentar assim ter alguma "vida própria", me despeço porque zzzzzz estou cansadita.


Boa noite.



Os meninos Peter Pan

Depois de já várias semanas passadas sobre o indescritível massacre de Connecticut nos EUA, venho finalmente falar sobre o assunto. Presumo que já está esquecido para a maioria das pessoas. Desde então já novos crimes foram cometidos algures no mundo, mais injustiças cometidas contra crianças, abusos, negligências, histórias menos felizes.
Por algum motivo a história do massacre marcou-me muito, mais do que outras coisas que tenho ouvido. Por algum motivo daquela vez aquilo soou-me a algo mais real, a algo como "podia ter acontecido comigo, connosco". E podia. Foi isso que não me deixou dormir bem à noite. Foi isso que fez com que chorasse baba e ranho várias vezes sempre que pensava no assunto.
Ver as imagens dos pais à porta da escola com o ar mais desolado do mundo, devastados, deixou-me de coração partido.
Como se atreveu aquele puto cruel de tirar a vida a crianças inocentes, que supostamente estavam num ambiente protegido, a brincar, a preparar-se para o resto das suas vidas? Como se atreveu aquele estúpido ignorante de pegar numa arma, sobre a qual nem sabia bem o poder que tinha nas mãos, de a usar contra miúdos que nem sabiam bem o que era uma arma, o que era sangue, o que era a dor do corpo a ser rasgado por um objeto estranho e mortal? Como se atreveu ele a infligir tamanho susto e sequelas psicológicas aos companheiros que sobreviveram àquele massacre? Como se atreveu ele a arrancar aos pais todos os sonhos que tinham para os seus filhos? Aquele filho da puta (com ou sem problemas psicológicos, quero lá saber) desfez a vida de muitos pais, para além da vida dos filhos. Sem estarem à espera e por motivo nenhum aparente, as noites sem dormir, a dedicação, o esforço, o amor desmedido, tudo foi por água abaixo. Foi tudo para depois ser o nada. O futuro desses pais são as fotos dos seus filhos, os vídeos, as lembranças, o passado. Os pais terão de viver o resto da vida relembrando filhos de 4 ou 7 anos que podiam ter sido isto e aquilo, que podiam ter-se parecido mais aos 30 anos com a avó Deolinda, mas que ficaram o resto da vida a parecer-se com a mãe quando esta tinha 5 anos. Os pais terão de ficar a vida toda presos a um ser que nunca cresceu. E tudo por culpa de um cretino que não valorizava a vida e que achava provavelmente que uma arma é uma brincadeira de jogo de computador, um puto que estava desnorteado com a sua própria vida e achou num acto loucura que descarregar a sua frustração em seres inocentes ia resolver os seus problemas, ou pelo menos chamar a atenção para eles.

Nenhum pai quer que o seu filho fique o Peter Pan, por mais gira que a história seja. Sim, todos queremos manter-nos crianças... mas de coração. Os pais querem (e precisam) é que os filhos os ultrapassem no tempo. Que cresçam e se tornem adultos. Eu quero morrer e saber que o meu filho ficou cá por muito tempo depois de mim. Que fez a sua vida, viveu o que tinha a viver. Que foi feliz, infeliz às vezes, que teve os seus desgostos, as suas alegrias, que cometeu erros, que admitiu as suas culpas, que viveu e tentou viver como queria. Quero morrer e que o meu filho me lembre. Nâo quero nunca ter de lembrar o meu filho.
Preferia morrer.

Desejo que estes pais, e já agora todos os pais que já não têm os seus filhotes consigo, consigam perdoar toda esta situação, ou pelo menos que consigam conviver e sobreviver o melhor possível. Que olhem por outras crianças em honra das que já tiveram consigo, que as eduquem e protejam o melhor possível, porque haverá muitas crianças que precisam dos seus cuidados e amor.

E fica aqui um Adeus sentido àqueles pequenos Peter Pan, cujas fotografias e sorrisos vi um a um na internet. Espero que o tempo que ficaram no mundo "real" tenha sido cheio de risos, gargalhadas, mimos, travessuras. Espero que continuem a brincar e sonhar de algum modo noutro mundo paralelo.