terça-feira, 19 de junho de 2012

Desaparecido

Hoje de tarde fui à praia como tinha planeado. Nenhumas das minhas amigas podia e acabei por ir com a minha mãe e com o M. Não fomos andar no paredão, fomos à praia, para a areia, o M. a meter os pés na água (mas a tirar 2 segundos depois porque estava "fiaaa"), o M. com ar meio enjoado a tocar na areia ao início (já o ano passado foi a mesma coisa) e depois a tratá-la já por tu e a colocar areia em cima de mim, em cima dele, em cima do que estivesse mais à mão. Foi curioso porque mesmo com a minha mãe ali (ele adora-a) queria sempre que eu lhe desse a mão (fosse para onde fosse) e depois queria sentar-se encostado a mim, entre as minhas pernas ("senta, senta!"). Deu para perceber que se eu estiver por perto ele sente que a sua segurança e conforto passam exclusivamente por mim. Embora queira criar um rapaz independente e seguro de si, acho que agora é normal essa atitude.

Mas dizia eu: estivemos na areia a brincar, a passear, etc etc. A certa altura um grande rebuliço. Um carro pequeno dos bombeiros e depois uma ambulância entraram na praia (e não podem entrar carros ali) e ficaram por trás de um café, por isso eu não conseguia ver nada. Os minutos iam passando.

De repente surge uma embarcação da Marinha. Depois uma mota de água (provavelmente deles também). Muita gente a agrupar-se na praia, mas eu não via onde estaria o problema. E então incrivelmente surge um helicóptero de pintura camuflada (Força Aérea?) a sobrevoar a praia (cheguei a pensar que ia aterrar) - grande excitação do M. com o "cópeto gandeee" - e depois a sobrevoar a água durante um bom bocado. Pensei várias vezes que ia aterrar, mas não. Sempre a voar muito baixinho, depois afastava-se, depois voltava.

A certa altura não aguentei mais, andei mais longe pela praia e fui até um grupo de bombeiros que estavam parados a conversar ao pé da água. Ao início não queriam dizer o que se passava (não sei porquê) mas depois um deles lá me disse "um miúdo desapareceu na água..."

:S

É de ficar gelada. Enquanto estava tudo ali na boa na praia, algures na água estava, ao mesmo tempo, alguém que ainda não estava morto o tempo suficiente para boiar, para vir à tona. Não faço ideia se era um miúdo que não sabia nadar e no meio da brincadeira com os amigos se foi afogando (muitas vezes as pessoas não se apercebem que há alguém a afogar-se, parece que estão a brincar, ou a agitar as mãos porque se preparam p ir ao fundo e tocar la com os pés e voltar acima), se era um miúdo que foi nadar sozinho, mas (se já era grandinho) bebeu umas cervejas, foi á água, teve uma congestão e não conseguiu gritar nem avisar que estava mal...
Não sei o que foi. Mas fiquei meio anestesiada e impressionada.
Que horror. Coitado dele. Coitados dos pais que àquela hora já estariam a ser avisados ou então até estavam ali à espera, sem grandes esperanças.
O mar não estava agitado, não estavam ondas, estava tudo calmo. Uma calma silenciosa e estranha. As pessoas a falar entre si, de pé, à espera que o barco, o helicóptero, ou a mota de água dessem algum sinal.

E assim, ao fim da tarde lá me fui afastando da praia, a ir embora, com o M. todo satisfeito a olhar para tudo, a chamar a minha mãe, a querer fazer festas nos cães que passavam. Espero que o meu bidu nunca se meta em sarilhos tão sérios... Ali estava eu contente com o meu boneco, a babar-me com tudo o que ele faz. E algures uns pais estariam já a ter um ataque de ansiedade, a sofrer, por causa do filho desaparecido na água. Naquele mar que estava tão calmo. Estavam todos tão calmos... Foi tão estranho. Não fosse as viaturas todas e era como se não se passasse nada.

Pergunto-me se já o encontraram. Só de pensar no rapaz ali debaixo de água a ser arrastado lentamente...

Vi agora estas notícias
http://www.tvi.iol.pt/noticia/sociedade/praia-jovem-desaparecido-oeiras-santo-amaro-tvi24/1354100-4071.html

Se calhar ainda não foi encontrado. Coitado. Para bem da família dele, espero que o encontrem brevemente.

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